terça-feira, 20 de novembro de 2012

JÁ SEM RAZÃO DE SER



Visto o manto do meu eu prosaico
Impertinência principiológica
Com a incoerência pedagógica
...
Fruto e manancial do meu ser laico...

Insigne astro de enormes nadas
Epopeia contada em aramaico
Morta letra em poema arcaico
Palavras nunca antes decifradas.

Desde quando simples e trágica
História vazia e sem importância
Desprovida de luz, da mágica

Transcendental da irrelevância
Ponho minha capa morfológica
E retiro-me desta insignificância...

Um comentário:

  1. Olá, Cris! Tudo bom? Este seu escrito vislumbrou-me perfeitamente:
    Transcendental da irrelevância
    Ponho minha capa morfológica
    E retiro-me desta insignificância...

    Adorei. Afinal, nós, meros leitores insignificantes, procuramos um pouco de si no que lemos. Eu poderia tê-lo escrito, de outro modo, talvez mais eloquente, de tão espelhado me pareceu.

    Posso usá-lo num novo devaneio literário??? ( Darei os créditos a vc, Cris, é lógico) Coisa boba, mais um dos meus desatinos romances rsrsrs ( Mais uma estória tosca, como a da Chloe e do Marco). Só que desta vez escreverei sozinha, sem leitor, porque é uma estória de insignificâncias, me reservarei à minha insignificância para escrevê-la.

    Eis um enxerto:

    “Setembro” - A estória de dois nadas, redundantes e insignificantes.

    Setembro surgiu no horizonte em fleumática e fria primavera. Equinócio triste de silêncio. Havia gravetos no jardim secreto, secos, e plátanos em bulevares extensos e invernais, na sombra. Não nasceram folhas, ainda era frialdade.
    Chovia. Ele observava a chuva mantendo-se dentro do quarto, alcova qualquer, olhando pela oblonga janela de seu ser. Não lhe tocou. Permaneceu embotado. Não se tingiu, umedeceu, molhou. Ela foi chuva virtualmente enviesada, por horas, molhando como lágrimas o plaxiglass diáfano de sua redoma matrimonial, de sua tediosa paz. Uma canção liquefeita no sertão, ela, irreal em seu coração árido, miragem. Ele queria que nascessem floras perenes através dessa janela. Mas ninguém semeou flores, a chuva caiu sobre o NADA, secou... Se a moça o fizesse sentir, vingar um rio que tudo contorna, seriam prementes nas margens do papel, água, dois seres melancólicos na correnteza, tomando forma e, com a beleza do Sena em Paris, banharia sua sulista cidade brasileira. Afogar-se-iam em torrencial amor, suor pluvial, pra sempre vivendo, acirrando suas prosas em boca na boca, lençóis e cama. Tsunamis em pequenos toques silábicos. O digitar cravado em unhas na carne, espinhos de rosas, sangue, vida e dor, sensibilidades das paixões errantes engendrando poemas e romances. Apenas se amarem como palavras únicas de um Neruda, cadenciosas, cúmplices: “Você é o meu outro eu...” Ou como oclusos hieróglifos egípcios nos féretros dos deuses, segredando mentiras: “Mais do que ser meu outro eu, você é minha”. Porém ela só foi chuva, sem corpo, desvaneceu como o dia entre limoeiros. Foi insignificante, foi uma pichação de viaduto: “Eu fui seu nada, você foi meu tudo.”
    Findou-se Setembro tocando canções italianas, tangos argentinos, boleros, violoncelos, La Solitudine chorando em um piano. Roubaram a primavera do sul. A moça na chuva não mais se figura. É estio. Fim. Um poema que ninguém mais lê, de título “Eu e você”, sem nada escrito, apenas rabiscos. Chegará dezembro e o solstício estival será de uma morna e inerte saudade, pairando no hemisfério da realidade... Chuva sólida em meio às praças, entre Flamboyants e Ipês. Das orquídeas em seu jardim, as rosas nos ombros dela, florescerão faltas. E todos os hibiscos se abrirão em saudade de cada linha por onde caminharam, dos lagos hostil do vale do Rift e os flamingos, dos prédios antigos ocupados, Composse, Insights, mar de Camboriú... O nome dela em grifo no computador e lembranças daquele amor amigo, apócrifo e êxul.

    Cibele Oliveira



    abraços



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